BRUNO SILVA
GUIA DE TURISMO HABILITADO NO MINISTÉRIO DO TURISMO
PERNAMBUCO, BRASIL e AMÉRICA DO SUL
ESPECIALIZADO: TURISMO RECEPTIVO, PEDAGÓGICO, HISTÓRICO, CULTURAL, ECOTURISMO e EXCURSÕES RODOVIÁRIAS
História, fé, arte e misticismo. Estes são os principais ingredientes da Zona da Mata de Pernambuco, refazendo os caminhos do ciclo do açúcar. Para conhecê-la bem, é preciso explorar não somente a arquitetura de suas construções, mas também o ritmo que persiste em suas vilas e cidades.
O primeiro passo é entender que durante os três primeiros séculos do Brasil Colônia, a cana-de-açúcar foi o motor da economia nacional, sendo Pernambuco o maior produtor da colônia. Para a fabricação do ouro branco, os senhores de engenho de origem portuguesa trouxeram milhares de escravos de diversas nações africanas. A mão de obra indígena também foi aproveitada nas lavouras. Além dos portugueses, a Zona da Mata sofreu a influência também dos holandeses e franceses. O resultado desta miscigenação está numa cultura rica em diversidades, cores e ritmos.
Por ter sido a maior região produtora de açúcar, a Zona da Mata Norte teve um grande desenvolvimento econômico, observado na própria arquitetura. Nos centros das cidades, as casas mais velhas seguem o estilo colonial: geminadas, com as frentes pequenas e compridas (um artifício dos portugueses para pagar menos tributos, já que os impostos territoriais eram cobrados a partir das dimensões da área frontal do imóvel).
Na Mata Norte estão algumas das mais importantes e antigas igrejas de Pernambuco, como a de São Severino dos Ramos, em Paudalho, construída no início do século 18. Desde a época da criação, o santo é adorado pelos nordestinos, que atribuem a ele centenas de milagres. O local é ponto de romaria, atraindo muitos religiosos entre os meses de setembro e janeiro.
Em Goiana, fica a monumental matriz de Nossa Senhora do Rosário, construída pelos portugueses em 1596 e ampliada em 1705. Os carmelitas ergueram na cidade um convento, em 1666, e uma igreja, em 1679. Ambos compõem um único prédio, situado em frente ao cruzeiro (1719), na praça do Carmo. Em Tracunhaém a fé é em Santo Antônio, que ganhou uma charmosa igreja em 1827. Em Nazaré da Mata, o visitante pode apreciar a bela matriz de Nossa Senhora da Conceição, de 1939.
Retratos dos canaviais nos engenhos
Maior símbolo de riqueza durante o ciclo do açúcar, os antigos engenhos são relíquias arquitetônicas no meio dos canaviais. Muitos deles estão conservados e foram transformados em pousadas rurais, reservando aos visitantes passeios a cavalo, banhos de bica, trilhas e até visitas a alambiques, para acompanhar a fabricação da cachaça.
A estrutura das casas grandes, onde viviam os senhores, obedece sempre ao conforto. As imensas varandas são voltadas para a nascente, deixando o sol do poente na cozinha. Os tetos são altos e as grandes janelas, baixas. O que garante uma atmosfera escura durante todo o dia. Apesar do calor que faz na região, as casas grandes normalmente são frescas, resultado da ventilação que corre pelas janelas e portas.
Alguns engenhos ainda guardam as moitas, casas de farinha, casas de purgar e senzalas dos séculos 17 e 18, além de capelas onde eram celebradas as missas dominicais.O mobiliário antigo das casas também encontra-se preservado, dando um charme especial ao passeio.
Os aposentos, porém, trazem todo o conforto da modernidade, com ar-condicionado e TV a cabo. Durante as noites, os engenhos adaptados para pousadas oferecem aos visitantes apresentações de forró, degustação de cachaças e uma infinidade de comidas típicas.
Viajar através dos engenhos é reencontrar a história de Pernambuco e do Brasil. O sociólogo Gilberto Freyre, afirmou certa vez que era impossível entender o Brasil sem o açúcar. É esta sensação de mergulhar no passado que o turista vai encontrar ao percorrer a Zona da Mata pernambucana.